quinta-feira, 13 de setembro de 2018

A gruta




Por vezes, na nossa vida, preferimos ir para a gruta do nosso eu, ir mesmo ao fundo de nós mesmos, para ali lamuriarmos as nossas dores e deceções da vida.

Parece que naquela gruta, longe de qualquer luz que possa ofender as coisas passadas, podemos chorar e fazer o luto por aquilo que tanto nos magoou ou magoa.

Ah, quando chegamos ao fundo da nossa história, em que parece que nada dá certo, o melhor é fazer esta espécie de concha em torno de nós mesmos para então aí tecermos um livro a partir das lágrimas e vazios existenciais.

Porém, mesmo que estejamos na gruta, a luz continua a iluminar lá fora. Não adianta que teimemos em ficar ali no poço mais escuro de nós mesmos. A vida continua a trazer-nos surpresas.


Todos os dias, o sol nasce e traz consigo um novo dia. Mas para este novo sol de cada dia, temos de sair da nossa gruta existencial e olharmos para fora. Por mais escuro que esteja a nossa vida, sempre há uma luz em qualquer ponta do tempo e do espaço que nos é oferecido todos os dias.

À medida que vamos saindo de nós mesmos, apercebemos-nos que afinal, há ainda muita luz lá fora, e que apesar do passado amargo, temos um mar de oportunidades à nossa espera.

A gruta do nosso “eu” até pode ser um refúgio para os momentos menos bons da nossa vida, porém, a vida tem que ser saboreada pelos seus momentos melhores, deixando-se para trás o que nos amarra à escuridão da nossa tristeza.

A vida é como uma árvore cheia de frutos, alguns destes poderão estar estragados ou intragáveis, mas a grande maioria está ali, pronto a ser saboreado. 

Claro que é preciso que um fruto amadureça para se tornar cada vez mais doce. Há coisas nesta vida que têm o seu tempo e momento para nos serem dados. Precisamos cuidar da árvore para que possa dar frutos cada vez mais saudáveis. 


Convido-te então a saborear o que de bom de te aconteceu e acontece na tua vida. Saboreia as vitórias, um momento feliz, um abraço, um sorriso e tudo que de bom partilhaste. 

A luz da nossa vida é feita de pequenas velas diárias, acesas uma a cada dia, sem pressa de  apaga-las.

Quanto ao resto, que não foi bom, coloca no lixo pois mereces seguir em frente no teu caminho de futuro sem tantas amarras ao passado.

(Fotos e texto de Rosária Grácio)